O autoconhecimento é o passo inicial da realização espiritual. Ajudar as pessoas a confrontar e integrar seus próprios medos e limitações pessoais faz com que para nós se torne possível lidar com esses problemas em termos raciais, nacionais e planetários. Orientadores, terapeutas e mestres estão numa boa posição para observar transformações pessoais, possivelmente porque as pessoas raramente procuram seus serviços quando a vida está se desenrolando satisfatoriamente. Geralmente, é algum tipo de trauma que nos leva a pedir ajuda. Pode ser uma crise muito transparente como, por exemplo, o fato de ser abandonado pela pessoa amada, descobrir que um filho anda consumindo drogas, a morte súbita de um amigo, o diagnóstico de uma doença incurável, uma depressão debilitante — qualquer uma das centenas de gatilhos que repentina e inequivocamente transformam a vida que planejáramos com tanto cuidado.
As pessoas também procuram profissionais capazes de ajudá-las quando estão passando por mudanças na sua vida espiritual. Alterações que surgem dos níveis mais profundos do eu só parecem ser menos violentas do que uma crise imediata e desgastante em nossa vida exterior. As mudanças da alma tendem a ser mais evolucionárias que evolucionárias. Porém, nas grandes reviravoltas, pode surgir qualquer mudança com toda a violência de uma crise, pois não há nada na nossa vida que possa ser separado do Espírito.
A palavra crise tem origem no vocábulo grego krines, que significa “separação de caminhos”. Isto já diz tudo. No despertar de uma crise importante, quase sempre nos desligamos da nossa visão anterior da realidade — não importa se o fazemos de boa vontade ou com queixas e gritos. Os chineses têm duas palavras para designar crise; uma significa “perigo”, a outra, “oportunidade”. De uma perspectiva espiritual, aquilo que parece ser perigoso geralmente nos oferece grandes oportunidades de crescimento. Muitas vezes, podemos sentir a aproximação de uma grande mudança. Pode ser que ela ainda não se tenha manifestado no mundo físico, mas sentimos sua energia em movimento, alterando o status quo. Antes de uma forte tempestade, sempre há um silêncio tenso, quase como se o próprio ar estivesse retendo o fôlego. Encontramo-nos no meio desse silêncio, percebendo a borrasca que se aproxima. Isso porque os momentos decisivos se anunciam por meio de vários sintomas vagos: uma profunda inquietação, um anseio indefinível, um aborrecimento inexplicável, a sensação de estar paralisado.
As mudanças que alteram nossa vida freqüentemente ocorrem como se uma cápsula de libertação do tempo tivesse sido dissolvida dentro da psique. Contudo, o acontecimento em si é, em geral, menos importante do que as oportunidades de aprendizado que estão encapsuladas dentro dele. Se é o momento de aprender uma lição específica, então acontecerão coisas que providenciarão a oportunidade perfeita. Porém, se os acontecimentos não se desenvolverem de modo a prover a lição necessária, ou se a lição não for aprendida, então ocorrerá outro conjunto de eventos que irão reapresentar a mesma lição. Suponha que a cápsula tenha sido liberada no momento certo para John, um rapaz de vinte e um anos, que precisa aprender a perdoar. O local do aprendizado pode ser o seu emprego e o patrão que ele parece ser incapaz de satisfazer torna-se o seu mestre. O acontecimento é que John é despedido. Se ele perdoar o patrão, estará livre para seguir em frente. Não terá de repetir a lição. Mas, no caso de se recusar a aprender sobre o perdão, passará para outra classe com novo mestre — porém a lição continua sendo a mesma: saber perdoar. John pode se ver num novo emprego — e desta vez ele está ameaçando o ego de um colega, que se vinga apresentando o trabalho de John como se fosse seu e obtendo para si um mérito que é dele. Ou então John faz amizade com alguém que lhe rouba a namorada. Ou o seu carro é roubado. Ele ainda vai ter de aprender a lição do perdão. Se não perdoar o patrão, talvez se torne capaz de perdoar o colega de trabalho, o amigo ou o ladrão. As mudanças que John está vivenciando são, na verdade, relativas à mudança de consciência. Para colocar isso no contexto de seus outros ciclos, suponhamos que o objetivo de sua alma seja o de aprender várias lições importantes, de modo a finalmente poder usar seu talento para ajudar os outros. Talvez, se pudéssemos vê-lo dois ciclos mais tarde, descobriríamos que se tornou um fisioterapeuta que reabilita pessoas acidentadas no trabalho. Ele não vai realizar essa tarefa antes dos trinta e cinco anos e talvez não tenha nenhuma idéia, aos vinte e um ou vinte e oito anos, de que esse tipo de trabalho venha a atraí-lo. Mas a alma dele sabe. Esse propósito faz parte do padrão da sua ascendência desde o nascimento, assim como a cor dos seus olhos.
Desde o momento em que John nasceu até aquele em que inicia esse trabalho, ele vai atrair inconscientemente para si todas as lições de que necessitar para se desobstruir e se preparar para ajudar os outros em seus bloqueios e desafios. Algumas das lições podem ser bem difíceis. Assim, por exemplo, pode ser que ele sofra um acidente sério aos vinte e oito anos que pareça uma interrupção absurda de sua vida naquele ponto. Se tentarmos compreender essa mudança dolorosa no momento em que ela ocorrer, provavelmente não seremos bem-sucedidos. Mas, à medida que John passar por meses de luta e terapia para recuperar a saúde, ele vai aprender a penetrar no fundo de si mesmo e libertar sua vontade. Sua aprendizagem será sobre a disciplina e a paciência, e sobre a compaixão pelos outros. Os níveis de percepção que estavam fora do alcance de sua consciência antes do acidente agora vão tornar-se acessíveis para ele. Vamos supor que John assimile a lição sobre o perdão, já que não poderá ensinar muito aos seus pacientes se ele próprio não a aprender. Nesse caso, aos trinta e cinco anos, quando estiver pronto para dedicar-se à missão de sua vida, ele já terá obtido o diploma das escolas que lhe ensinaram aquilo que ele precisava saber para fazer bem o seu serviço. O perdão, a autodisciplina e a compaixão irão combinar-se numa forma de síntese em sua consciência.
As 7 Etapas de Uma Transformação Consciente, p. 17.
Foto: Tidefan
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