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O ato de deixar as coisas correrem nos leva gradualmente ao desapego. Esse pode ser o conceito mais mal compreendido do desenvolvimento espiritual. Desapego soa como “indiferença para com os outros”. Mas nada pode estar mais distante da verdade. A indiferença é a mola da negação, do medo, do egoísmo e do julgamento— uma percepção do mundo do tipo “eles contra nós”.
O verdadeiro desapego reconhece o problema, depois libera a necessidade de o ego interpretar os objetivos que estão por trás do sofrimento. O desapego é uma entrega diante do mistério do universo à medida que ele se move através de qualquer pessoa. O desapego permite que as pessoas se desenvolvam no seu próprio tempo. Trata-se de uma forma elevada de amor porque ele ama o ser que está por trás do problema e não se fixa no problema. O desapego abre a possibilidade de atingirmos o objetivo daquela prece que está associada aos Alcoólatras Anônimos: “Meu Deus, dá-me serenidade para aceitar as coisas que não posso mudar, coragem para mudar as coisas que posso mudar e sabedoria para distinguir a diferença entre elas.” Num estado de espírito desapegado, a percepção é aumentada e o discernimento é mais agudo. É mais provável que nos tornemos um canal aberto através do qual o amor possa se derramar dentro de cada situação. Como conselheira, já ouvi falar de muitos problemas. Aprendi que, quando estou afetivamente desapegada, sou capaz de perceber, tocar e, com confiança, fortalecer o espírito que há dentro da pessoa para enfrentar os problemas. Quando não estou desapegada — quando estou presa ao “não é horrível?” — geralmente é porque algo está ecoando em mim em virtude desse problema. Quando isso acontece, somos duas pessoas ligadas a uma limitação. Ao treinar pessoas com dons de cura, descobri que, num determinado momento, elas acabariam sempre me procurando preocupadas por acharem que não estavam se importando mais com o seu trabalho normal. Porém, se eu as examinava detalhadamente, ficava claro que elas estavam procedendo de acordo com o perfeito Plano Divino. Quanto maior o número de pessoas com quem trabalhavam, mais elas percebiam que algumas aceitavam a cura e que outras, não. Elas estavam amadurecendo na compreensão dos propósitos mais sutis da doença. À medida que iam amando e servindo, seu ego ia se tornando cada vez menos envolvido com os resultados. Mas, em algum lugar ao longo do caminho, elas já tinham passado por muito choro e ranger de dentes por causa da dor e temiam que isso significasse que não estavam mais se importando. A essa altura, eu lhes contava a história do macaco que tentou puxar um peixe para fora da água para impedir que ele se afogasse. O macaco “apegado” está sempre tentando salvar as pessoas. O salvamento presume que ele sabe o que é melhor para o outro. O apoio é voluntário, habilidoso e fortalecedor — ele respeita o caminho da outra pessoa e o seu direito de escolher.
As 7 Etapas de Uma Transformação Consciente, p. 266
Foto: GerGauss
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