
Mesmo a circunstância mais restritiva funciona como água para o moinho. As restrições que vivenciamos forçam-nos a prestar atenção nos aprimoramentos que precisam ocorrer antes de continuar o nosso crescimento. Trata-se do controle protetor do Eu Superior.
No simbolismo astrológico, o planeta Saturno representa a energia da restrição e da forma. A maioria das pessoas considera as passagens de Saturno, que acontecem a cada vinte e oito anos, como árduas e sombrias. Mas Saturno é reconhecido pelo aprendiz espiritualista como mestre e ao mesmo tempo como anjo. É através das limitações que somos forçados a vivenciar nossas realidades espirituais no plano terrestre. Elas mantêm os locais de aprendizagem até que a lição seja totalmente aprendida. O sistema nervoso não consegue lidar com energias mais elevadas enquanto não for preparado para isso. É algo como tentar fazer passar uma energia de 220 volts através de uma fiação para 110. O equipamento tem de ser aprimorado, e isso acontece durante a purificação. As restrições com que nos deparamos forçam nossa atenção para os aprimoramentos que precisam ocorrer antes de progredirmos e de ampliarmos mais o nosso sistema. Elas fornecem os controles protetores do Eu Superior. Atendi a dois homens que tinham tido um ataque cardíaco com poucos dias de diferença um do outro. Um aceitou o que lhe acontecera. É claro que ele não gostou disso, mas, ao se entregar — não numa atitude de futilidade, mas de não-resistência — ele foi capaz de usar sua vontade para apoiar o processo de cura. Ele melhorou consideravelmente. O segundo homem não conseguiu deixar de lado o seu ressentimento pelo fato do que lhe havia acontecido. Positivamente ele fazia objeções quanto à realidade que a vida lhe impunha. Ele se mostrou indignado e enraivecido até morrer. Uma das chaves que destrava o processo de purificação é a gratidão. Deveríamos realmente agradecer a todas as pessoas irritantes que há em nossas vidas. Nós precisamos delas. Elas nos mostram claramente onde está o trabalho a ser feito. Sem essas pessoas nós nos deixaríamos enganar facilmente. Certa vez, Gandhi disse que o aliado que você deve procurar sempre é a parte do seu inimigo que sabe o que é certo. Mais do que isso, deveríamos agradecer a todos aqueles que sofrem por nós. Como diz a astróloga Liz Green, em The Outer Planeis & Their Cycles [Os Planetas Exteriores e Seus Ciclos, Editora Pensamento, São Paulo, 1988]: “No momento, todos os bodes expiatórios que conhecemos — os esquizofrênicos e os anoréxicos e os depressivos — exteriorizam toda a nossa dor coletiva, enquanto o restante de nós avança suavemente e sem conflito. Veja as pessoas que sofrem de AIDS, a criança que é estuprada, etc, e diga obrigado, obrigado por recebermos a oportunidade de ver onde estamos fora dos padrões, o que está em desequilíbrio, o que precisa de conserto.” Na aparência, ser grato por cada sombra, limitação e pessoa negativa parece ser uma prerrogativa dos santos. Mas não é. A gratidão é uma escolha que se torna um hábito. Ela é um importante ingrediente na alquimia da transformação e está intimamente relacionada com o amor. O mestre da macrobiótica George Ohsawa menciona sete níveis de felicidade: a consciência, o nível mais alto, é chamada de gratidão. A gratidão cria uma combustão de energia que revigora as nossas células vitais. É por isso que todas as tradições espirituais ensinam a importância da gratidão. E isso, por certo, não é porque a divindade necessite de algum tipo de tranqüilizante. Ao contrário, é porque, quando estamos em estado de gratidão, estamos afirmando nossa fé no nosso bem maior e negando autoridade à energia paralisante e limitadora do medo. Em seu diário de 1918, Herman Hesse conta-nos que ouviu duas vozes num sonho. A primeira, que ele percebeu ser dos pais e professores, encorajava-o a evitar o sofrimento. A segunda, que parecia vir de mais longe, assim como uma “causa primária”, lembrava-o de que o sofrimento só machucava porque ele o temia. “Você sabe muito bem, lá dentro de você, que só existe uma mágica, um único poder, uma única salvação… e ele se chama amor. Bem, então, ame o seu sofrimento. Não se oponha a ele, não fuja dele. Entregue-se a ele. É apenas a sua aversão a ele que machuca, mais nada.”
As 7 Etapas de Uma Transformação Consciente, p. 234
Foto: Ally 213
Comments